Uma pesquisa divulgada hoje pelo Observatório do Clima aponta uma possível maneira de o setor de energia do Brasil reduzir em 80% as emissões anuais de gases do efeito estufa até 2050.
O projeto propõe uma série de ações que poderiam permitir, em 26 anos, suprir a demanda de energia no país com um aumento médio do Produto Interno Bruto de 2,1% ao ano e também garantir a transição para um cenário de baixo carbono.
Essas medidas incluem a eliminação dos subsídios do governo aos combustíveis fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral), mudanças na Petrobras e no modelo de desenvolvimento energético do país, que poderiam levar o Brasil a emitir 102 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e) no setor de energia até 2050.
Sem essas medidas, a projeção para o setor é de 558 milhões de toneladas de CO₂e, mesmo considerando os compromissos assumidos pelo governo e os planos estratégicos das empresas do setor.
De acordo com Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, as ações propostas também possibilitariam ao Brasil se tornar a primeira grande economia a capturar mais gases de efeito estufa do que emite.
“Isso mostra que podemos mudar de direção e contribuir para que o Brasil se torne um país carbono negativo até 2045.”
Diretrizes
Entre as sugestões apresentadas estão a maior utilização de energias renováveis no setor elétrico, como solar e eólica, juntamente com novas tecnologias de armazenamento; o avanço da indústria de hidrogênio verde; mais investimentos em biocombustíveis e eletrificação do transporte público coletivo, priorizando-o em relação ao transporte individual motorizado nas áreas urbanas.
O estudo também destaca a importância de redirecionar os subsídios do governo atualmente concedidos aos combustíveis fósseis para a transição energética, além de interromper a expansão da exploração de petróleo, revertendo propostas como a abertura de novos poços na Foz do Amazonas.
A mudança também exigiria o desenvolvimento de estratégias para transformar a Petrobras em uma empresa de energia com foco em fontes de baixo carbono. A estatal precisaria reduzir gradualmente a produção de petróleo, garantindo a manutenção do valor da empresa no mercado.
Os pesquisadores afirmam que, além de contribuir para uma economia de baixo carbono, as diretrizes propostas no estudo possibilitariam a superação da pobreza energética e a correção de injustiças, tornando a produção de energia mais eficiente. Suely destaca: “Nos concentramos na redução necessária de emissões no contexto de crise no Brasil e no planeta, e na justiça climática.”
Sustentabilidade
O reposicionamento do setor, responsável por apenas 17,8% das emissões totais de gases de efeito estufa no país, traria mais sustentabilidade à descarbonização brasileira, de acordo com o Observatório do Clima.
“A transição energética é um elemento fundamental da política climática, pois traz mudanças duradouras. É diferente do controle do desmatamento, que pode retroceder rapidamente com mudanças governamentais, como ocorreu no período 2019-2022”, destaca o relatório.
Impactos
O estudo também examinou os impactos sociais e ambientais das novas fontes renováveis e da mineração de metais estratégicos (como lítio, cobre, grafita ou metais de terras raras) para atender à demanda global resultante da transição energética. Possíveis consequências são identificadas como um alerta para as autoridades públicas.
São apontadas tendências de impacto nas terras de populações tradicionais; empregos precários, de baixa qualidade e mal remunerados; além de contratos abusivos na implementação de projetos e exploração com práticas degradantes.
Outros possíveis problemas decorrentes da mudança para energia de baixo carbono em um cenário de órgãos reguladores fracos ou capturados incluem desmatamento, poluição e aumento de conflitos agrários e internos nas comunidades locais, por exemplo.
O relatório destaca que, para que a transição energética seja justa, é necessário o amplo envolvimento das comunidades afetadas e a criação de um quadro regulatório que aborde esses desafios.
“O Brasil deve implementar políticas eficazes que reduzam os impactos e promovam uma convivência mais harmoniosa, com controle social, dos projetos de energia renovável e exploração mineral nas áreas onde estão inseridos,” ressalta o estudo.
Algumas das ações sugeridas incluem estabelecer metas para reduzir a pobreza energética, com iniciativas como geração de energia próxima aos consumidores e acessível às famílias de baixa renda; justiça territorial e habitacional, integrando classes sociais em áreas urbanas centrais e reduzindo viagens e distâncias; e eliminar o uso de energias fósseis na mobilidade pública.
Resultados
O transporte de passageiros é apontado como a área de demanda energética com maior potencial de redução rápida das emissões. Para que a atividade deixe de emitir 102 milhões de toneladas de CO₂e, conforme o SEEG registrou em 2022, e passe a emitir apenas 16 milhões de toneladas, são sugeridas medidas simples como substituir gasolina por etanol em veículos flex e gradualmente eletrificar a frota.
Já o transporte de cargas, principalmente rodoviário no Brasil, apresenta os maiores desafios, de acordo com os pesquisadores. O alto custo de baterias para longas distâncias e a substituição de outros componentes são apontados como barreiras para a eletrificação de caminhões pesados e semipesados, indicando um processo mais lento na redução das emissões nessa atividade.
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